Conheça artistas que "fazem arte" nas ruas de Brasília
- Natália Vergütz
- 8 de mar. de 2023
- 2 min de leitura
Eles estão ali, em frente ao nosso nariz, todos os dias. Perambulando pelas ruas, feiras, e locais de grande circulação de pessoas, mostrando sua arte. É só dar uma volta pela cidade e observar. Não há um público específico, nem ingressos à venda. O valor do trabalho depende exclusivamente do que cada espectador julga valer. Longe de serem tratados como os artistas que aparecem na mídia, eles vivem no anonimato e muitas vezes não têm o reconhecimento que merecem.

Frederico Garcia (27) é um desses personagens das ruas de Brasília. Ele nasceu em Honduras, morou em vários países e está a cerca de seis meses na capital. Seu local de trabalho, o sinal ao lado ao Edifício Rádio Center. Lá, Frederico mostra toda sua habilidade na arte de malabares, arriscando-se com o fogo. Ele afirma que muitos motoristas têm receio de abaixar o vidro do carro para colaborar, pois o confundem com ladrões. Mas ele não reclama: “Muitos nos dão parabéns, e as crianças, principalmente, ficam fascinadas. Isso é muito gratificante”.
Passeando pela feira da torre, podemos encontrar Alan kardec, que faz esculturas de madeira e de ferro. Alan aprendeu o trabalho com o pai, aos oito anos. O artesão se preocupa com o meio ambiente, por isso, todo seu material é reciclado. O ferro é recolhido de oficinas e a madeira é de sobras. Segundo ele, falta incentivo do governo: “O artista plástico fica mais excluído da cultura”. Para Alan, deveria haver mais visibilidade para os artesões da feira, um dos maiores pontos turísticos da cidade.
Bem perto de Alan, Lêda Abadia (62) pinta suas telas. Segundo a artista, a arte deveria ser mais valorizada, pois a maior parte dos compradores das obras são estrangeiros. Já Roger Baes (43), que domina as técnicas do perígrafo e do entalhe, lapida a madeira que enfeitará as portas e paredes de casas, com mensagens em três dimensões. Ele adora seu trabalho. “Quando eu era moleque, meus pais, para me fazerem parar de chorar, me davam papel e lápis para desenhar”. No entanto, ele desabafa: “O governo parece querer que a feira se pareça com uma favela, para ter uma desculpa para, mais tarde, tirar-nos daqui”.
Mais um giro pela cidade, um som atrai a curiosidade de quem passa pela rodoviária. É Seu Enock de Almeida Lima, com seu reco-reco. Aos 60 anos, 51 vividos em Brasília, o simpático cidadão compõe sambas que falam de amor e de admiração pela capital. E não para por aí. Ele também toca surdo, cuíca, pandeiro e tan-tan. Assim, atrai clientes para engraxar sapatos, além de ganhar fãs. E se define no próprio samba: “Enock andou com o samba, e o samba para si tomou, eu quero andar com o samba, igual ao Enock andou”.
Frederico, Alan, Leda, Roger e Enock são alguns, dentre tantos outros personagens brasileiros, que têm o dom de contornar as dificuldades e se dedicar a algo que realmente lhes faça feliz.